quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Amor de uma Bailarina

Apedido de : Aderlane Santos


Eles eram colegas de escola, desde o jardim de infância.
Cresceram juntos, moravam na mesma rua.
Apesar de tanta proximidade, eram invisíveis (um para o outro) até que os hormônios bateram às suas portas.
Despertaram (um para o outro) como quem emerge de um longo período de amnésia.
Descobriram-se.
Por ela, ele esquecia até das famosas partidas de futebol com os amigos.
Por ele, ela até faltava a algumas aulas do tão adorado balé, iniciado desde a mais tenra idade.
Mas, a vida tratou de separá-los. A família dele mudou-se para outro Estado.

Após um curto período de choros e promessas e juras, cada um rendeu-se aos apelos externos. Namoraram outros amores. Casaram com outras paixões.

Ele, sempre muito estudioso, formou-se com louvor e seguiu a carreira de Direito.
Vivia pela sua profissão e a abraçava como se fosse a mulher amada (talvez por não ter esquecido completamente aquela colega-vizinha, por quem sentiu bater o seu coraçãozinho pela primeira vez).

Ela, sensível às artes em geral e possuindo mesmo alma de artista, entregou-se ao balé clássico (uma entrega total, de alma e corpo, talvez por não ter esquecido aquele colega-vizinho, por quem sentiu bater o seu coraçãozinho pela primeira vez).

E o destino, em uma das suas divertidas manobras, resolve reunir os dois em um mesmo local, na mesma hora e minuto e segundo: a floricultura.
Ela ia comprar orquídeas para levar ao aniversário da irmã do seu ex-marido.
Ele ia comprar rosas brancas para levar ao aniversário da ex-sogra.
Reconheceram-se imediatamente apesar de já não serem mais os colegas-vizinhos daqueles anos 70. O tempo foi camarada e pouco ou quase nada alterou os traços em ambos os rostos.
Conversaram animadamente, como se tivessem separados há apenas uns meses. Trocaram telefones e breves informações esclarecedoras a respeito do viver da cada um. Iam retomar o contato... Após o breve encontro, esta era a frase que cada um repetiu mentalmente.

Retomaram o contato. Como amigos, iam a jantares, a festinhas, a cinemas e peças de teatro.
Ele comparecia a todas as apresentações do balé dela.
Ela estava presente em todas as partidas de futebol do time dele.
Tudo fluía leve entre os dois. Sentiam-se felizes como nunca.
De vez em quando, havia alguns olhares lânguidos, desejosos, insinuantes, mas nada passava desse ponto....era como se um ficasse à espera que o outro tomasse a iniciativa. Iam namorar.... Após cada encontro, esta era a frase que cada um repetia mentalmente.
Iniciaram a fase de namoro. Beijos apaixonados e intermináveis. Abraços tórridos e intensos...Tudo caminhava para o encontro maior entre os dois.
Marcaram a noite e se prepararam com esmero.
Primeiro, um jantar leve e impregnado de uma expectativa imensa. Depois, o caminho até a casa dela (que pareceu ser mais demorado do que nunca). E, finalmente, a chegada aonde aconteceria a entrega total entre os dois.

Sim, sei que pode parecer último capítulo de novela ou o ápice daqueles contos das edições de bolso das bancas de revista, mas...

Já na cama, ele foi despindo peça por peça até que ela ficasse completamente nua em sua frente. Era um momento mágico. Parecia que nada mais existia no mundo, além daquele quarto. Ele passeou os dedos em cada centímetro do corpo dela, ao tempo em que pensava nunca ter visto antes criatura mais perfeita e bela... Até parar nos pés da bailarina.
Desconcertou-se e sentiu que lhe faltava o ar. De um salto, levantou da cama, foi até a janela e respirou fundo... O mundo voltou a existir e acabou por cair em cheio em sua cabeça.

Vestiu-se, sem dizer palavra. Saiu do quarto, da casa e da vida da bailarina.
Ela ficou... Congelada nas sensações e emoções.



Nenhum comentário:

Postar um comentário