sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Coppélia

Balé em três atos
Libreto: Charles Nuitter e Arthur Saint-Léon, baseado na história de E.T.A Hoffman.
Coreografia: Arthur Saint-Léon
Cenários: Cambon, Lavastre e Despléchin
Música: Léo Delibes
Figurinos: Paul Lormier
Estréia mundial: 25 de maio de 1870 no Théatre Imperial de L’Opera de Paris.
Giuseppina Bozacchi interpretou Swanilda e Eugénie Fiocre, Franz.


Coppélia é, provavelmente, o ballet cômico mais conhecido e certamente o mais  apresentado, no entanto, é muito mais que uma peça engraçada. Foi uma quebra na tristeza dos  ballets românticos da época, Coppélia foi um sucesso imediato com seu humor, brilho e suas vigorosas danças nacionais. Criado quando Paris estava perdendo sua posição como capital da dança do mundo, e com a popularidade do balé estava em decadência, a estréia contou com a presença das principais figuras da sociedade parisiense.
Embora as raízes de Coppélia estivessem no ultrapassado movimento Romântico, esse ballet alcançava além, e criando uma base para o ballet clássico que ainda estava por vir. Coppélia tem os camponeses robustos típicos do ballet Romântico, mas nenhuma criatura etérea, apenas uma terrena boneca mecânica. A coesão artística do trabalho e sua incorporação de danças nacionais, seu virtuosismo técnico e variações, pressagiaram o ballet Clássico que então surgiria.
Apesar do sucesso de Coppélia em sua estréia, apenas 18 apresentações foram feitas inicialmente. O exército prussiano invadiu a França logo depois da estréia, e o sitiamento de Paris impediu as apresentações.
Impressionado com o sucesso do ballet La Source (1866), Émile Perrin, diretor da Ópera de Paris, pediu à Charles Nuitter e Arthur Saint-Léon para que colaborassem novamente. Nuitter, arquivista da Ópera de Paris, trabalhou no libreto de Coppélia com o coreógrafo Saint-Léon. Léo Delibes, o qual também tinha composto parte da música de La Source, foi escolhido para ser o compositor.
Pouco é sabido sobre como os colaboradores trabalharam juntos, mas é provável que Nuitter tenha sugerido a estória da boneca de E.T.A Hoffmann e a idéia tenha rapidamente sido aceita. Coppélia é baseada em Der Sandmann (1815), mas Nuitter manteve-se afastado do lado obscuro da estória original, concentrando-se em uma espécie de comédia que também teve grande sucesso em outro ballet, La Fille Mal Gardée. Na estória original, de Hoffmann, a boneca de fato ganha vida, usando o espírito retirado de Franz, enquanto no ballet Swanilda finge ser a boneca, para salvar Franz do experimento de Dr. Coppélius.
Nuitter havia pensado em Léontine Beaugrand para o papel de Swanilda, mas Perrin não a considerava boa o bastante. Saint-Léon importou uma protegida sua, a alemã Adèle Grantzow, na época estrela do Bolshoi, para o papel principal.
Por Saint-Léon estar dividindo seu tempo entre França e Rússia, o período de produção do ballet foi demorado, sendo ensaiado por cerca de 3 anos. Somente no verão de 1869, Coppélia finalmente ganhou forma, mas a estréia foi adiada para 1870, pois Saint-Léon precisava voltar à Russia, talvez a demora tenha permitido que os pontos fracos fossem ajustados, mas também significou o não aparecimento de Mme. Grantzow no ballet. Devido a uma lesão, ela foi obrigada a voltar para casa antes da estréia de Coppélia. Lesão, a pior aflição para um bailarino – iriam perseguí-la para o resto de sua carreira. Mme. Grantzow faleceu após ter uma das pernas amputadas.
Uma busca nas escolas parisienses foi iniciada, e uma talentosa estudante italiana foi encontrada, Giuseppina Bozacchi, que tinha 15 anos quando começaram os ensaios, e 16 na estréia. Impressionou os críticos com sua personalidade e bom trabalho nas pontas. Mlle. Bozacchi dançou em 18 apresentações antes da guerra impedí-las. Infelizmente, durante o sítio de Paris, contraiu uma febre, vindo a morrer em seu aniversário de 17 anos, em 1870.
A obra-prima de Delibes para esse ballet é frequentemente citada como a principal razão para a popularidade que Coppélia sempre teve. Delibes misturou composições clássicas e folclóricas, estilos de dança e música(Coppélia é o primeiro ballet que contém czardas, uma complicada dança folclórica húngara). A tendência do nacionalismo das músicas, existente na época, provavelmente influenciou na decisão do compositor de incluir várias danças nacionais na partitura.
O trabalho de Coppélia foi musicalmente avançado: as melodias eram mais líricas do que as usadas nas composições dos primeiros ballets, e Delibes compôs o tema de maneira a identificar os personagens e a atmosfera, pratica esta que se iniciou com Adam (com quem Delibes estudou) em Giselle. Swanilda possui uma graciosa e brilhante valsa, Dr. Coppelius um seco contratempo, e um instrumento canônico é tocado para a música de sua boneca Coppélia. Franz possui dois temas, as primeiras quatro notas de cada um formam a mesma forma de melodia. Não existia nenhum solo masculino escrito para Franz, já que o papel era, inicialmente,  interpretado por uma mulher. Pelo mesmo motivo não havia nenhum pas de deux notável na versão original da composição; o pas de deux que hoje em dia é considerado excepcional surgiu com a remontagem feita por Marius Petipá, na produção Russa de 1884.
Apesar do sucesso e durabilidade inicial de Coppélia, o terceiro ato apresentou um problema para os coreógrafos subseqüentes: a estória de amor fica quase completa no final do 2° ato, quando Franz e Swanilda reconhecem suas respectivas bobagens. Alguns sentiram a necessidade de um grand pas de deux, o que era uma tradição clássica, para mostrar a maturidade e controle das personagens principais (embora seja desconhecido de que forma era dançado quando ambos as personagens eram mulheres); então o grand pas de deux foi inserido no contexto de  uma série de divertissiments. Mas o original divertissiment do Festival do Sino foi considerado longo demais, e estranho para o enredo. As danças foram inicialmente encurtadas e mais tarde completamente cortadas. Nas produções subseqüentes foram tentadas diversas soluções, chegando inclusive a omitir por completo o 3° ato.
Foi na Rússia que o primeiro grand pas de deux com um homem dançando Franz surgiu. Curiosamente, havia um pas de deux na produção de Boston em 1887, mas não era Franz quem dançava, era o tocador de sino do festival que dançava com Swanilda, personagem que não existe mais no ballet.
Os elementos fantásticos de Coppélia residem tão somente nas figuras mecânicas; as pessoas são muito humanas, e há um final feliz. A maior parte da trama é centralizada na figura de Dr. Coppélius. Durante décadas ele foi retratado de um feiticeiro do mal à um excêntrico, e até ridículo, homem velho. Tem sido visto tão somente, como um homem da ciência, que talvez tenha uma idéia distorcida da realidade. Paradoxalmente, enquanto seu personagem está pronto para tirar a vida de um jovem rapaz para dar vida à uma boneca, ele geralmente é visto como uma figura cômica.
Franz é muito menos complicado e deixa um pouco a desejar – como, infelizmente, ocorria com a maioria dos protagonistas masculinos do ballet clássco tradicional.
A popularidade de Coppélia rápido chegou até a Russia – e à Dinamarca, que tinha uma longa tradição dos homens dançarem. Apesar da produção dinamarquesa muito ter se aproximado do enredo original, focou muito menos as bailarinas; Swanilda era a única que dançava nas pontas. Esta versão, montada por Hans Beck, era muito popular com os bailarinos e com o público, mas foi criticada pelos cortes feitos na música.
Em 1871 Joseph Hansen apresentou Coppélia em Bruxelas, e em 1882 foi apresentado no Teatro Bolshoi, em Moscow. A maioria das versões de hoje em dia são baseadas na bem documentada versão Russa de 1884, de Marius Petipá; acredita-se que essa é a versão que mais se aproxima da original de Saint-Léon. Enrico Cecchetti e Lev Ivanov revisaram a produção 10 anos depois, e os elementos da versão provavelmente sobreviveram até os dias de hoje.

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